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terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Deus que sonhou

O Deus que sonhou...(Max Lucado)

"No princípio era o Verbo...

e o verbo se fez carne, e habitou entre nós." (jo 1.1,14)


Sentado junto à grande escrivaninha, o autor abre o grande livro, não há palavras. Não há palavras porque não existe nenhuma palavra. Não existe nenhuma palavra porque nenhuma palavra é necessária. Não há ouvidos para ouvi-las, não há olhos para lê-las. O autor está só.

E então Ele toma a grande pena e começa a escrever. Assim como um pintor junta suas cores, e um escultor, suas ferramentas, o autor reúne suas palavras.

São três, três únicas palavras. Dessas três fluirão milhões de pensamentos. Mas essas três palavras sustentarão toda a história.

Ele toma a pena e traça a primeira. t-e-m-p-o.

O tempo não existiu até que Ele escrevesse. Ele, em si, é atemporal, mas sua história ficaria fechada no tempo. a história teria o primeiro nascer do sol, o primeiro movimento da areia.

Um começo... e um fim, um capítulo final. Ele o conhece antes de escrevê-lo.

Tempo, um passo na trilha da eternidade.

Devagar, com ternura, o autor escreve a segunda palavra.

Um nome, A-d-ã-o.

Enquanto escreve, vê o primeiro adão. Depois vê todos os outros. Em milhares de eras, em milhares de terras, o autor os vê, cada Adão, cada filho. Instantaneamente amados. Permanentemente amados. Para cada um, designa um tempo. Para cada um, indica um lugar. Nenhum acidente. Nenhuma coincidência. Apenas desígnio.

O autor faz uma promessa a esses não-nascidos: à minha imagem, fá-los-ei. Vocês serão como eu: vão rir. Vão criar. Não morrerão, nunca, e ainda escreverão.

Cada vida é um livro, não para ser lido, mas antes, uma história que deve ser escrita. o autor inicia a história de cada vida, mas cada vida escreverá seu final.

Que liberdade perigosa. Seria muito mais seguro terminar a história de cada adão. Registrar cada escolha. Seria mais simples. Seria mais seguro. Mas não seria amor. Amor só é amor quando há opção.

Assim, o autor decide dar uma pena para cada filho. “escrevam com cuidado", sussurra.

Carinhosamente, deliberadamente, escreve a terceira palavra, sentindo já a dor. E-m-a-n-u-e-l.

A maior mente do universo imaginou o tempo. o mais capaz dos juízes garantiu uma escolha a adão. mas foi o amor quem concedeu o Emanuel, o Deus conosco.

O autor entraria em sua própria história.

A palavra tornar-se-ia carne. Ele também nasceria. Ele também seria humano. Ele também teria mãos e pés. Ele também teria lágrimas e provações.

E, o mais importante, Ele também teria uma escolha. Emanuel postar-se-ia nas encruzilhadas da vida e da morte, e escolheria.

O autor conhece bem o peso dessa decisão. Faz uma pausa ao escrever a página de seu próprio sofrimento. Podia parar. Mesmo o autor tem escolha. Mas como não criar, sendo Criador? como não escrever, sendo escritor? Como não amar, sendo Amor? Assim escolhe a vida, embora signifique morte, na esperança de que seus filhos façam o mesmo.

E desse modo o Autor da Vida completa a história. Ele encrava a lança na carne, e rola a pedra sobre o túmulo. Conhecendo a escolha que fará, conhecendo a escolha que todos os adões farão, escreve "Fim", então fecha o livro e proclama o início.

"Haja luz!"



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